
O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo,ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossivel,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah, com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço.
Álvaro de Campos
6 comentários:
Adoro este poema... como ele se adequa também ao que hoje sinto!
Tem uma boa semana... pouco cansativa, se possível.
Rute, esse feriado não te fez bem. Estás tão cansada assim? Não combina contigo, lindinha.
beijos
Pessoa nunca cansa, mesmo cansado...
Deep, Pitanga, luis milheiro:
Pois é. Há momentos assim, mesmo que não "combine" muito comigo:P
Além disso, gosto muito deste poema por isso, decidi partilhá-lo!
beijinho
Adorei o poema. Bj
Tá certo Rute. Também tem direito de ter o seu dia mais ou menos. Porque não?
beijinhos
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