Estava na fila do bar. Era o último dia do
Colóquio. Enquanto esperava pela minha vez, ele aproximou-se. Eu não o tinha visto. Estava também na fila do bar e, saindo da sua vez, veio-me falar.
- Bom dia! - disse com um sorriso.
- Bom dia. Como está? - retorqui.
Acenou com a cabeça. Já nos tinhamos cruzado algumas vezes nos dias anteriores. Sem trocar nenhuma palavra cumprimentara-me sempre com um leve inclinar de cabeça, a que eu respondia delicadamente da mesma forma.
Olhou a rapariga que entretanto tinha chegado e dirigiu-lhe igualmente um "bom dia" e um sorriso. Ainda ouvi um "bom dia professor" à medida em que avancei na fila do bar mas, fiquei sem ter a certeza do que se passara nesse mesmo instante...
Como que para dissipar as minhas dúvidas, oiço novamente a sua voz, desta vez dirigindo-se a mim: "não acha?". Olho para ele com ar interrogador. Não tinha a certeza se os meus sentidos me tinham enviado informações correctas sobre o que tinha acontecido...
Com um sorriso e um inclinar de cabeça na minha direcção diz:
- Um beijo na testa é mais...
- É sinal de respeito! - digo rápida e incredulamente enquanto penso "quer que lhe dê um beijo na testa?! Ah, não!"
E avancei na fila do bar estendendo a senha do café à senhora que a recebeu com um largo e divertido sorriso. Naturalmente tinha assistido ao que acabara de acontecer. Cena provavelmente habitual, excepção feita ao espanto obviamente estampado no meu rosto.
Sentei-me a beber o café, sozinha, e não pude deixar de rir. Era um professor de reconhecido nome, com produção científica importante o suficiente para termos que ler os seus livros durante a formação académica, uma pessoa com uma certa (muita) idade e que naturalmente respeito mas... sem beijo na testa!!!
5 comentários:
Olá Rute,
A minha passagem por aqui estava prometida.
A propósito do beijo na testa, fez-me lembrar um poema cheio de actualidade do João de Deus. Espero que goste.
Não três, mas muitos beijinhos.
Ádila Faria
O BEIJO
Beijo na face,
Pede-se e dá-se:
Dá?
Que custa um beijo?
Não tenha pejo:
Vá !
Um beijo é culpa,
Que se desculpa:
Dá?
A borboleta
Beija a violeta:
Vá !
Um beijo é graça,
Que a mais não passa:
Dá?
Teme que a tente?
É inocente...
Vá !
Guardo segredo,
Não tenha medo:
Vê?
Dê-me um beijinho,
Dê de mansinho,
Dê !
Como ele é doce !
Como ele trouxe,
Flor,
Paz a meu seio !
Saciar-me veio,
Amor !
Saciar-me? Louco...
Um é tão pouco,
Flor !
Deixa, concede
Que eu mate a sede,
Amor !
Talvez te leve
O vento em breve,
Flor !
A vida foge,
A vida é hoje,
Amor !
Guardo segredo,
Não tenhas medo
Pois !
Um mais na face,
E a mais não passe !
Dois...
Oh ! dois? piedade !
Coisas tão boas...
Vês ?
Quantas pessoas
Tem a Trindade?
Três !
Três é a conta
Certinha e justa...
Vês?
E que te custa?
Não sejas tonta !
Três !
Três, sim: não cuides
Que te desgraças:
Vês?
Três são as Graças,
Três as Virtudes;
Três.
As folhas santas
Que o lírio fecham,
Vês?
E não o deixam
Manchar, são... quantas?
Três !
João de Deus
Estranho...
Bjs... mas não na testa!!!
Só tu Rute, para no final de uma noite me fazeres rir um pouco!!!!
Beijinhos assoprados do atlântico.
E como se diz aqui na terra: "Uma coisa assim?!!!"
beijinhos Rute (mas não na testa,hehe)
ádila:
Obrigada pela visita e pelo poema.
Deep:
Eu fiquei mesmo surpeendida e não consegui escondê-lo. Não conhecia este "costume", se é que se pode dizer assim...
Cidália:
Ainda bem que ris! Às vezes precisamos mesmo de rir!!!
Pitanga:
É que foi mesmo assim! Uma mulher já não pode beber um café descansadita!!!
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